Hora do Conto: Dois pastéis de carne, por favor

by - março 06, 2021


Este conto foi inscrito para um desafio da semana de escrita criativa, do canal Carreira Literária

Era sexta-feira à noite e, como de costume, o bar próximo à rodoviária estava lotado. 

Carlos odiava aquele lugar. Odiava o pagode deprimente e a cerveja quente que serviam. Mas ele frequentava mesmo assim, pois era a única forma de vê-la novamente sem parecer um maníaco perseguidor. 

Suas mãos começaram a tremer quando ouviu o jornalista anunciar o horário na televisãozinha de tubo pendurada na parede. Faltavam quinze minutos para as nove. Ela logo, logo desceria do ônibus, correria com dificuldade até o bar com seus sapatos scarpin pretos e pediria dois pastéis de carne para a viagem. Carlos sabia de tudo isso porque observava a mulher com uniforme de aeromoça havia dois meses. Ele não estava realmente apaixonado, mas sentia algo como curiosidade. Não entendia o por que de uma aeromoça viajar tanto assim de ônibus, mas também não se sentia no direito de questionar.

Alguns minutos se passaram, e nada dela aparecer. Carlos checou o celular. Já eram nove e dez. "Cadê ela?", pensou. E como se tivesse ouvido sua pergunta silenciosa, um velho magricela, que ele acreditava ser o dono do bar, se aproximou e disse:

- Ela não vai aparecer, rapaz. Acho melhor você ir embora. 

Carlos demorou perceber que era com ele que o velho falava. Mas quando o encarou, notou que os olhos do homem estavam cheios de lágrimas.

- Você não viu na televisão? O avião que ela trabalhava caiu ontem de madrugada. Não sobrou ninguém. 

Carlos franziu a testa, confuso. Então olhou para a rodoviária vazia, finalmente entendendo o que o velho quis dizer. Sua voz soou fraca quando pediu:

-Dois pastéis de carne para a viagem, por favor.

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